quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O Encontro

Imagem por: JOhaza

Sexta-feira, noite de lua cheia na pequena Greenville, Pensilvânia. As casas acesas, as pessoas na rua, o bar do Bill lotado. Podiam-se ouvir as risadas dos beberrões que já tinham passado do limite. Sentia-me estranha, tinha uma sensação de que algo ruim estava para acontecer. 

Experimentei olhar a lua, para esquecer. Linda, gorda e amarela. Hipnotizei-me por alguns instantes.
De repente, escuto barulhos se aproximando, me tiraram do transe. Entre os galhos das árvores, atrás de mim, sai um casal. Reconheci o garoto, Joe Schmied, lembro-me dele pequeno, vinha sempre aqui com seus pais e irmãos, para brincarem durante horas. 

Ouvi Joe dizer, certamente sua família nem imaginava onde ele estava e muito menos às escondidas com sua namorada que quando olhou para cima em direção a lua, pude reconhecê-la, Jennifer Sanders, cabelos loiros e encaracolados, rosto redondo, os olhos eram duas esmeraldas, pele branca, macia e bem cuidada, uma menina linda. Joe tinha bom gosto. Resolvi prestar atenção no que faziam. Ele montou a barraca enquanto Jennifer juntava os gravetos e acendia a fogueira. Tiraram alguns marshmallows da mochila, sentaram nas grandes raízes da árvore atrás deles e começaram a cozinhar os pedacinhos brancos presos nos espetos.
Tudo perfeito, o tempo passou rápido e já era tarde quando senti o chão tremer. O casal não sentiu, continuaram abraçados olhando a fogueira consumir toda  a madeira. Vejo algo correndo, pequeno e distante, aquela sensação ruim toma conta de mim. Sei que aquilo que está vindo é algo ruim. Continua avançando, como um trem desgovernado, o casal estático, não sente o chão tremer. 


Tento avisá-los, grito, gesticulo, mas sem sucesso, eles não me ouvem e não me vêem. A coisa é uma fera, um lobo que avança em minha direção, o chão treme com mais intensidade conforme se aproxima, mas nem Joe nem Jennifer sentem. Grito e gesticulo de novo, mas nada, eles não olham pra mim. O lobo, que ao longe era pequeno, é enorme, pêlos espessos pretos, o focinho comprido, os olhos dilatados e as orelhas pontudas em alerta. Ele pára atrás de mim. O casal está distraído, conversando amenidades.Moon Werewolf


- Ei Joe, sai daí. - tento chamá-lo sem que a fera  me escute. 

Ele não ouve e ela dá o bote. Arranca a cabeça, o sangue jorra, Jennifer grita horrorizada, o animal investe contra a garota, provando sua carne e se lambuzando de sangue. Tentei avisá-los, mas não me ouviram. O lobo, satisfeito após a refeição, dá um uivo de triunfo. Fez-me gelar, minhas raízes tremerem e minhas folhas... Chacoalharem.


por: MP
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terça-feira, 20 de outubro de 2020

Negócio Lucrativo

Imagem por: Catkin

Tenho uns 300 anos e tomei sem permissão o corpo dessa manicure de 25. Cuido com muito zêlo tem umas 30 primaveras. Sheilla é seu nome. E quando a possuí era uma moça recatada, taciturna, religiosa e dona de um corpo bonito. Usava pouca maquiagem, não era cheia das vaidades, se escondia atrás da caricatura feia que fazia de si. Uma tremenda bobagem. Não se achava merecedora de nada. Queria apenas passar de relance pela vida com seu trabalho simples de cortar, lixar e esmaltar unhas. Vi isso em suas memórias. Que coisa depressiva. Com esse espírito enfraquecido, não me admira a facilidade com que entrei em sua vida. A moça nem tinha trinta anos para ser tão fim-de-carreira assim. A vida tinha que ser divertida e ela devia aproveitar o que a mocidade tinha a oferecer. Decidi dar uma mãozinha.

Comecei pelos cabelos. Cortei, dei um trato e fiz mechas vermelhas. Depois foi a vez das roupas, troquei parte das calças jeans por vestidos, saias e shorts, que mostrassem as pernas maravilhosas que ela tinha. Tenho estilo, está pensando o quê? As unhas, agora eram vermelhas. Até o modo de falar eu mudei, Sheilla era muito submissa, aceitava qualquer porcaria que lhe falavam. Lógico que estranharam as mudanças. Eu usei sua boca para dizer que tinha decidido abrir os olhos e aproveitar a vida que passa tão rápido. Ninguém contestou. Aliás, a maioria gostou. Principalmente os homens, esses safadinhos... Acho que Sheilla devia me agradecer por ter conduzido seu corpinho a prazeres que ela nunca sonhou.


Mas a grande sacada foi, descobrir que a profissão dela é muito útil para conseguir o que quero. São tantas vidas que passam neste salão. Faço unhas, ouço problemas. Gente doente que anseia por saúde. Outros, falidos, que desejam a riqueza. Solteironas querendo quem as leve à loucura. Tem de tudo. Um verdadeiro cardápio de almas, da mais mulambenta à mais refinada. Sempre gostei de clientes satisfeitas, então, resolvo seus problemas.


Como faço isso? Muito simples, convenço minha cliente de que preciso de certo número de anos ou menos para realizar todos os seus caprichos. O que, na verdade, é o tempo que ela terá usufruir deles. Muitas nem sequer olham o contrato, apenas assinam, principalmente as mais gananciosas, que logo se imaginam de posse de tudo o que posso oferecer. As que percebem que é um pacto com o demônio, estalo meus dedos e as mato. Afinal, tudo funcionou bem até agora, graças à minha discrição. Ao término do contrato, coleto o que me foi prometido: a alma.


Transformo todos os aninhos que dou às minhas clientes em beleza e juventude com um feitiço, muito velho, ensinado por Lúcifer. Aplico neste corpo e o mantenho jovem, belo e imortal. Cada contrato que levo assinado para o meu chefe me rende mais tempo, curtindo o que esse corpinho delícia me dá. É um negócio bem lucrativo. Todo mundo sai ganhando: meu chefe que tem mais escravos, ganho mais tempo por aqui e … tá olhando o quê? Vocês também ganham. Recebem tudo o que pedem, oras.


por: MP
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